BiblioGazeta on-line

quinta-feira, julho 20, 2006

LER: CONSULTÓRIO SEXUAL DA DRA. TATIANA PARA TODA A CRIAÇÃO

«Sou uma fêmea de louva-a-deus e reparei que desfruto mais do sexo se começar por arrancar a cabeça aos meus amantes à dentada. Isto porque, quando os decapito, eles entram em espasmos muito excitantes. De algum modo, parecem mais desinibidos, mais insistentes – é fabuloso. Também lhe acontece o mesmo?» Vem depois a resposta da Dra. Tatiana: «Algumas das minhas amigas devoram homens mas, aqui entre nós, o canibalismo não é a minha onda».

É neste registo de consultório sentimental, tanto vulgar quanto original, que a bióloga e jornalista científica Olivia Judson escreveu um livro absolutamente espantoso sobre a vida sexual dos outros animais. Nele se fala sobre diferentes formas de sexo entre diferentes espécies animais. Coisas estranhas, é certo, mas acima de tudo coisas naturais. Sem qualquer censura ou complexo ou preconceito social. Sem qualquer constrangimento ou arrependimento. E acima de tudo sem qualquer culpa e medo e vergonha. É precisamente este mundo que Olivia Judson nos mostra no seu livro. Um mundo onde, aparentemente, apenas nós e os urubus-pretos vivemos numa espécie de bolha puritana que não faz mas deseja ou, como é mais ao nosso jeito, que diz que não faz mas que faz às escondidas. Talvez seja precisamente por esta razão que o Consultório Sexual da Dra. Tatiana para Toda a Criação (Quetzal, 2006) além de ser um excelente livro de divulgação científica é sobretudo um excelente livro de provocação à nossa mania, em grande parte disfarçada, de não tolerar comportamentos libidinosos em público. Precisamente da mesma forma que os urubus-pretos. É que se um «urubu jovem e sem experiência de vida tentar dar uma queca num poiso, a pobre criatura será severamente atacada pelos outros urubus da vizinhança». E quando digo em grande parte disfarçada é porque ao mesmo tempo surge espontaneamente em nós um ímpeto voyeurista de ver e de ter prazer. É que há por aí muito boa gente com as vistas cansadas sussurrando para si própria aquele velho ditado: «comer com os olhos». Para uns é o que lhes resta. Para outros é tudo o que têm. Para toda a criação é conversa fiada.

(Na Gazeta Animal de Agosto)

Etiquetas: ,