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quarta-feira, novembro 08, 2006

PORQUE É QUE O GANSO NÃO É OBESO?

Convenhamos. Nós não somos tão diferentes do resto do mundo que nos rodeia como isso. Sobretudo porque andamos todos ao mesmo. É porque o problema da sobrevivência é universal e comum. As respostas é que são diferentes. Sobreviver a uma altitude superior a 5 mil metros requer mecanismos de adaptação muito diferentes dos necessários para sobreviver no oceano. Guelras no ar não fazem sentido mas apenas tanto quanto não fazem sentido pulmões no oceano.

No seu mais recente livro, Eric P. Widmaier, professor de biologia da Universidade de Boston, chama-nos a atenção para o facto de como as estratégias evolutivas da sobrevivência afectam a nossa vida quotidiana. Em «Porque é que o ganso não é obeso (e nós aumentamos de peso)», editado em Portugal pela Gradiva, encontramos exemplos excelentes de como o meio ambiente nos desafia e de como, em grande parte, somos fruto da forma como respondemos a esse desafio. É que, embora à partida haja coisas que nos pareçam alhos e bugalhos, elas na verdade podem ter muito em comum. Por exemplo, as asas de morcego e as orelhas de elefante. Está bem que as asas servem para voar e as orelhas para ouvir mas ambas as estruturas desempenham um papel muito importante na manutenção da temperatura corporal. Precisamente por isso as orelhas dos elefantes africanos são maiores que as orelhas dos elefantes asiáticos. Vou contar-vos um segredo. É que na África faz muito mais calor. E depois há aquelas banalidades que observamos e que por momentos nos inquietam. Porque carga de água é que os animais mais pequenos, como os ratinhos, como o Speedy González, se movem energicamente e os maiores, como os elefantes, se movem pachorrentamente? O professor E. Widmaier explica-nos tudo tim-tim por tim-tim. É que os animais mais pequenos têm uma taxa de metabolismo muito superior à dos animais grandes, ou seja, gastam depressa aquilo que consomem. Por isso é que eles estão sempre a comer e não engordam. Como os gansos. Já os animais grandes, como o elefante, têm autênticos «acumuladores térmicos» (leia-se, massa corporal) que lhes permitem estar várias horas sem comer. Os morcegos e os musaranhos, por exemplo, ingerem até uma vez e meia o seu peso em comida por dia! Para um homem adulto como eu seria como comer cerca de mil cheeseburgers de 100 grama por dia, todos os dias da minha vida. Se assim fosse, raios partam a sobrevivência!
(Na Gazeta Animal de Novembro de 2006)

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