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terça-feira, agosto 14, 2007

O PROGRAMA DE VIDA DOS SALMÕES

Se há animal pelo qual tenho um fascínio particular, esse animal é o salmão. Por mil e mil razões. Mas a que agora mais interessa é o seu programa de vida. Aliás, um programa de vida muito, muito interessante embora um tanto ou quanto trágico. Vejamos porquê. Depois de passarem uma vida de quatro anos nos oceanos, os salmões adultos e anafados iniciam uma viagem de regresso ao lugar do rio onde nasceram. Movidos pelo dever de cumprir o seu programa, estas criaturas percorrem os quilómetros que forem necessários. Com a força de mover montanhas, sobem o rio lutando arduamente contra as águas que descem. A sua obsessão quase estóica pelo regresso, torna-os indiferentes às armadilhas do percurso (ursos pardos, aves, tubarões e outros peixes). Cansados e exaustos (e talvez tristes, ou não) chegam finalmente ao que foi o princípio que é agora o fim. Aí sofrem uma transformação absolutamente impressionante. Primeiro mudam a cor para vermelho vivo e verde. Depois, durante alguns dias, é todo um festival de cortejo de acasalamento para finalmente culminar na postura de milhões de ovos. E depois, pronto. Morrem. Assim sem mais nem menos. Tudo por um regresso. Mesmo depois de morrerem. É que as suas carcaças fazem uma última viagem através dos rios que as levam, pela última vez, de regresso aos oceanos. É trágico. Mas é talvez por isso que os admiro.

(Na Gazeta Animal de Julho/Agosto de 2007)

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